Cópia de Palestra Internacional na UFES com a Pesquisadora Paula Guerra em 05/02

Cópia de Palestra Internacional na UFES com a Pesquisadora Paula Guerra em 05/02

A Universidade Federal do Espírito Santo, nessa terça feira, dia 05 , dá continuidade a série de palestras com a Professora Paula Guerra.

A Pesquisadora da Universidade do Porto ( Portugal) realizará algumas palestras a partir de uma parceria firmada entre a Universidade Portuguesa e  a UFES.

Serão três dias em que a Professora vai conversar com a Comunidade Acadêmica  sobre temas que transitam entre Arte, Ativismo e Sul Global.

 Paula Guerra

Doutora em Sociologia pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP). É Professora no Departamento de Sociologia na Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigadora Integrada no Instituto de Sociologia da mesma universidade (IS-UP), onde atualmente coordena o subgrupo Criação artística, práticas e políticas culturais. Faz parte ainda de outros centros de investigação internacionais: Investigadora Associada do Centro de Estudos de Geografia e do Ordenamento do Território (CEGOT); Adjunct Associate Professor do Griffith Centre for Social and Cultural Research (GCSCR); Investigadora Convidada Internacional no Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal Fluminense (PPGS-UFF), no Grupo de Pesquisa História, Cultura e Subjetividade da Universidade Federal do Piauí e Universidade de Brasília (Brasil); no Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Pernambuco (PPGCOM-UFPE) e no Laboratório de Análise de Música e Audiovisual da Universidade Federal de Pernambuco (L.A.M.A.).

É fundadora e coordenadora da Rede Todas as Artes. Rede Luso-Afro-Brasileira de Sociologia da Cultura e das Artes (com Glória Diógenes e Lígia Dabul). Pertence ainda à Interdisciplinary Network for the Study of Subcultures, Popular Music and Social Change e à Research Network Sociology of the Arts of the European Sociological Association. Tem sido professora/investigadora visitante em várias universidades internacionais: Université Cadi Ayyad Marrakech UCA (Marrocos), Université Sidi Mohammed Ben Abdellah, Fez USMBA (Marrocos), Hué University HUEUNI (Vietname), Universidade Nacional de Timor Lorosae UNTL (Timor), Griffith University (Austrália), Università di Padova (Itália), Uniwersytet Im. Adama Mickiewicza W Poznaniu UAM (Polónia), Katholieke Universiteit KU Leuven (Bélgica), Concordia University of Edmonton CUE (Canadá) e Universitat Autònoma de Barcelona – UAB Barcelona (Espanha).

Coordena e participa em vários projetos de investigação nacionais e internacionais no âmbito das culturas juvenis e da sociologia da arte e da cultura. É, igualmente, supervisora de diversos projetos de mestrado, doutoramento e pós-doutoramento nas referidas áreas temáticas. É membro do conselho editorial de diversas revistas científicas nacionais e internacionais, assim como revisora científica de vários artigos e livros.

Os seus atuais interesses de investigação incluem os seguintes tópicos: popular music, culturas e carreiras DIY, subculturas e pós-subculturas, teoria social crítica, teorias sociológicas, metodologias qualitativas de investigação, música e cenas musicais underground, autenticidade, aura e carisma nas artes, campos culturais, art worlds, cinema, performance.

É coordenadora e fundadora da KISMIF Conference e coordenadora da Secção Temática Arte, Cultura e Comunicação da Associação Portuguesa de Sociologia. É autora (em conjunto com Andy Bennett) do edited book DIY Cultures and underground music scenes (Oxford: Routledge, 2018). Publicou recentemente os livros God Save the Queens. Pioneras del Punk (Barcelona: 66 RPM Edicions, 2019), Subcultura.

O significado do estilo (Lisboa: Maldoror, 2018), The Punk Reader. Research transmissions from the local and the global (Porto: Universidade do Porto. Faculdade de Letras, 2017), Redifining art worlds in the late modernity (Universidade do Porto, 2016), More than loud (Porto: Afrontamento, 2015), On the road to the American underground (Universidade do Porto, 2015), As Palavras do Punk (Lisboa: Alêtheia, 2015), More Than Loud (Porto: Afrontamento, 2013). A instável leveza do rock (Porto: Afrontamento, 2013). E é autora de inúmeros artigos publicados em revistas nacionais e internacionais de referência: Journal of Sociology, Popular Music and Society, European Journal of Cultural Studies, Critical Arts, Portuguese Journal of Social Sciences, Sociologia, Problemas e Práticas, Revista Crítica de Ciências Sociais.

UFES e Universidade do Porto

A presença da Pesquisadora em solo capixaba, é o início de uma parceria firmada entre as duas instituições. É um acordo específico de cooperação acadêmica e científica entre o Programa de Pós-Graduação em Artes e Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo (Brasil) e a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (Portugal), que abraça:

I.1. Mobilidade de estudantes de graduação e de estudantes de pós-graduação, por meio da qual podem frequentar cursos e participar de atividades de pesquisa na instituição anfitriã;

I.2. Mobilidade de professores e pesquisadores, por meio da qual *podem ministrar palestras, oficinas, minicursos e disciplinas* e conduzir ou participar de atividades de pesquisa na instituição anfitriã;

I.3. Credenciamento como professor colaborador nos programas de pós-graduação

envolvidos – designadamente o Programa de Pós-Graduação em Artes e Cultura da

Universidade Federal do Espírito Santo (PPG-A/UFES);

I.4. Cotutela (orientação conjunta) de tese de doutorado, exercida por orientadores

vinculados a cada uma das instituições;

I.5. Desenvolvimento conjunto de projetos de pesquisa;

I.6. Produção conjunta de publicações acadêmicas e científicas;

I.7. Participação e fortalecimento da Rede Lusófona Todas as Artes I Todos os Nomes e da Rede Internacional KISMIF;

I.8. Organização de eventos acadêmicos, científicos e culturais, como simpósios, congressos, seminários, entre outros.

II.1. Para coordenar a implementação deste acordo específico, a UFES indica o Professor Doutor APARECIDO JOSÉ CIRILO ([email protected]), do seu Programa de Pós-Graduação em Artes e Cultura da Universidade Federal do Espírito Santo (PPG-A/UFES) e a UPORTO indica a Professora Doutora PAULA MARIA GUERRA TAVARES ([email protected]) do Departamento de Sociologia da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (DS/FLUP) e do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto (IS/UP).

O Professor José Cirillo, da UFES, responsável pelo acordo de cooperação,reforça a relevância desse tipo de iniciativa e celebra o evento: É com imenso prazer que recebemos a Professora Paula Guerra em nossa Universidade trazendo com ela toda a sua contribuição para nossos alunos e a instituição como um todo. Esperamos que essa seja uma parceria longeva e extremamente exitosa.

Bem-vinda ao Brasil!

Paula Guerra/foto

1- No dia 05/02, sua palestra tem o título de Artes, Artivismos, Figurações da Feminilidade e Sul Global. Pode nos dizer um pouco sobre o tema?

Bom, a temática do segundo dia, da intervenção, é uma temática que eu tenho vindo a trabalhar há muito tempo, há cerca de cinco anos, nesta parte, junto com pesquisadores brasileiros, fruto também desta troca constante entre Portugal e o Brasil, e desta ideia aqui de alguns pós-docs, algumas colegas, e fomos entrando num diálogo de abrir o nosso horizonte para as artes, para o artivismo, para o género e para o sul global.

Isto é, perceber até que ponto a problemática do artivismo que eu estudava já do ponto de vista numa situação, por exemplo antes do convite e pós crise de 2008, etc, num dito mundo ocidental, como é que essa questão desse artivismo tem vindo a sofrer ou a aparecer de forma muito positiva de um momento no contexto brasileiro, no que tem-se algumas manifestações de arte contemporânea, mas também que envolvem manifestações musicais, que foi sempre o primeiro foco da minha abordagem.

E isso tudo levou-me, posteriormente, a abordar a obra da Juliana Notari, que vou dar ênfase na quarta-feira, nesta palestra, e que é, no fundo, já entrevistei por duas vezes, e essa artista e a obra dela levou-me a questionar toda essa questão de gênero, do artivismo e até a própria questão do sul global.

2- A expressão Sul Global,adotada recentemente para substituir os rótulos de “Terceiro mundo” e “Países em desenvolvimento” aparentemente tem uma função mais simbólica do que efetivamente uma mudança de patamar. Mudar a nomenclatura é o suficiente? O que mais é preciso?

Passando agora para a questão do sul global, na verdade é uma questão que tem vindo a ter muito relevo, na verdade eu acho que é um esforço que nós temos vindo a levar a cabo para sair  dessa perspectiva colonialista e diferenciadora, que depois vai cair nas perspectivas do membro, por exemplo, na questão do colonial e do pós-colonial, é um assunto que eu sigo de forma sistemática, e o sul global é uma forma de entendimento, na qual eu, por exemplo, na perspectiva de Wallerstein, quando ele nos fala nas periferias, eu, por exemplo, incluo também Portugal num contexto semi-periférico, isto é, não considero que Portugal seja propriamente uma sociedade do norte global.

Então esta categoria de sul global é uma categoria que não pretende ser uma panaceia universal, é uma categoria epistémica e holística de abordagem alargada das periferias do mundo que se tem vindo a constituir num pós-Segunda Grande Guerra Mundial e após o processo de descolinização, até hoje, gerando novos contextos coloniais, novas formas de diferenciação, novas formas de desigualdade e isso tem vindo a ser muito, muito incrível quando nós abordamos, por exemplo, alguns conceitos – como eu costumava abordar, o conceito de resistência, que é um conceito de Stuart Hall, de Birmingham School, e todo ele vem tendo o lastro de desenvolvimento alargadíssimo quando nós o situamos num contexto como o brasileiro e isto tem sido um contexto interpretativo. Um contexto de abordagem muito relevante.

3- A arte existe para que a realidade não nos destrua?

PG: Não sei se arte existe para que a realidade não nos destrua, mas na verdade a arte existe para ampliar as nossas possibilidades de imaginação social, as nossas possibilidades de liberdade e as nossas possibilidades de resistência e existência numa sociedade cada vez mais fragmentada. E foi daí que todas as minhas questões em torno do artivismo da associação da Arte e Política emergiram, por exemplo, quando analiso trajetos não só de artistas ligados ao modo sub-cultural, mas por exemplo, ligados ao meu caso do Fado Bicha, em Portugal, ou da Lin da Quebrada ,no Brasil, em que encontra aí possibilidades de reunião entre arte e política, isto é, entre arte e intervenção.

4- O seu fazer Acadêmico é muito relevante e extenso. Onde a Arte e Academia se encontram?

– Eu diria que, para mim, na verdade, o meu fazer acadêmico é um fazer muito prático. Eu defendo muito uma perspectiva do colega americano, do sociólogo americano, que é o Michael Burawoy, que defende uma sociologia pública.

Na verdade, eu tenho que fazer isso sempre. Desde o início, que há sempre uma perspectiva na minha abordagem de tornar tudo aquilo que nós fazemos objeto de uma apropriação por parte das populações, quer sejam jovens, quer sejam menos jovens, isto é, os destinatários dos estudos ou os objetos dos estudos acabam por de ser sempre também usuários dos produtos desses mesmos estudos. E isso passa pela realização de documentários, tem passado pela realização de documentários. Mas também de exposições, sistematicamente, e também de o que nós chamamos de kits pedagógicos. E isso também tem a ver com uma espécie de, com uma tecnologia crítica, que vou ver muita influência a Paulo Freire, e não só, e também ao próprio punk rock e outros movimentos, como o centracionismo e os dadaísmos. Esse caudal de movimentos levou-me também, e tem levado, à questão da tecnologia crítica e da possibilidade de fazer chegar as coisas às populações, e discutir e ser auditado pelas populações.

5-Voce acompanha a Arte feita no Brasil? O que te chama atenção?

Acompanho muito, comecei muito por acompanhar a questão musical, mas também a questão cinematográfica e também agora a arte contemporânea, Berna Reale, performática, Rubiane Maia e outros artistas. Muito fruto desse intercâmbio, que é a pergunta seguinte, isto é, eu tenho recebido sistematicamente estudantes para o Doutorado Sanduíche junto a mim. Eu acho que nos últimos tempos foram, quando eu digo últimos tempos, tipo desde 2021, eu recebi mais de 20 estudantes de Doutorado Sanduíche com diferentes temáticas diferentes, ligadas às artes. E já mesmo antes, desde 2014, quando eu passei lá ao primeiro Doutorado Sanduíche para a questão do Raul Seixas. Eu comecei a ter, já tinham interesse, mas o interesse desenvolveu-se, não é? E tenho estado muito a par do que se faz no contexto brasileiro. E acho que, na verdade, é um mundo de possibilidades, um mundo de interrogações, um mundo de alertas incríveis o contexto brasileiro.

6- O mundo passa por um momento de tensão no que diz respeito a Democracia. O que a   pode fazer como ferramenta de defesa da Democracia?

Em relação a esta questão do que é que a arte pode fazer para a democracia, isso é uma questão que me preocupa e que me acompanha sistematicamente. Na verdade, eu acho que a arte e a ciência são parceiras epistemológicas, não estão em campos opostos, não são conflituantes, são simbioticamente parceiras. E o discurso artístico é um discurso que tem um relevo enorme, que é seja através do cinema, da literatura, da música. É óbvio que a música é onde eu tenho mais trabalho de investigação, é empírico, mas eu, na verdade, considero que a arte salva, pode salvar no sentido de expressar momentos cruciais da identidade, da história, do contexto e permitir que nós tivéssemos uma intervenção mais direta nesse contexto

7- Vc tem contato ou admira o trabalho de algum artista capixaba?

Acerca da cena capixaba, é uma dequestão que me tem chegado de forma intensa, por via dos trabalhos que eu tenho observado, mas de alguma forma nos últimos tempos tem sido a Rubiane Maia que tem ocupado, eu fiz uma entrevista em abril do ano passado, uma longa entrevista em dois momentos, uma entrevista em profundidade, digamos assim; e é em torno da abordagem dela que estou, que tenho feito alguns trabalhos no presente. Estou a tentar encontrar um espaço de tempo para realizar esses trabalhos, mas já não estou em Fortaleza propriamente. Na verdade, acho que tenho muito a aprender neste contexto artístico e societal, que é o contexto de Capixaba, e acho que, mesmo que tem sido o último ano, uma grande fonte de renovação e inspiração para o meu trabalho.

8- Qual a importância desses intercâmbios entre Países?

Na verdade, eu acho que estes encontros e estes intercâmbios são fundamentais para o desenvolvimento humano, social, cultural e científico. Sem eles, todas as questões do transglobal, do colonial, da interdisciplinaridade, da multidisciplinaridade ficariam muito aquém e, portanto, acho que são cruciais estas formas, outras de ver o mundo, estes encontros, estes olhados cruzados que se vão fazendo. E, na verdade, tenho vindo a saudar muito estas iniciativas e claramente é isso que tenho feito.