José Carlos Vilar e suas “Lições de Escultura “

O Palácio Anchieta, no Centro de Vitória, recebe, a partir desta terça-feira (18), a nova exposição “Lições de Escultura”, do artista plástico capixaba José Carlos Vilar. Com curadoria de Agnaldo Farias, a mostra reúne diversas esculturas em aço, explorando diferentes dimensões e formas.
A exposição vai estar aberta ao público até o dia 22 de junho e apresentará peças inéditas e do acervo do artista, feitas em técnicas variadas. Baseadas na poética da forma, as esculturas foram produzidas a partir da vivência do artista com o cotidiano, da sua observação das coisas que o cercam, sempre com um olhar criativo, pensando na produção de suas peças. Entre os pontos de inspiração está a relação diária que ele tem com o mar, por conta da sua prática de décadas com canoa havaiana.
Sobre Vilar
Autenticidade e vigor são alguns dos atributos que definem o escultor Vilar. Sua obra impressionante surge a partir de uma rotina de trabalho pautada na disciplina e na inspiração que encontra em tudo ao seu redor.
“Gosto muito de criar. A escultura é parte essencial da minha vida. Todos os dias me levanto cedo, faço minha atividade física e após o retorno tomo meu café́ e começo a produzir. Tem sido assim há décadas”, conta o artista.
Professor aposentado da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Vilar é uma referência na escultura capixaba. Durante 35 anos, lecionou a disciplina de Escultura no Centro de Artes da Ufes, onde também atuou como vice-diretor e diretor. Suas obras, além de refletirem sua dedicação integral à arte, convidam a reflexões imaginativas.
A exposição é uma parceria entre Governo do Estado, por meio da Secretaria da Cultura, o Instituto Modus Vivendi e a empresa ArcelorMittal.
A curadoria do evento, fica por conta de Agnaldo Farias.
Agnaldo Farias é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo e desenvolve pesquisa em Arte e Arquitetura Contemporâneas.
Foi Curador Geral do Museu Oscar Niemeyer (2017/2018), Curador Geral do Instituto Tomie Ohtake (2000/2012) e do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (1998/2000). Foi Curador de Exposições Temporárias do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (1990/1992).
Foi Curador Geral da 29a. Bienal de São Paulo (2010), da Representação Brasileira da 25a. Bienal de São Paulo (1992) e Curador Adjunto da 23a. Bienal de São Paulo (1996). Foi Curador Geral da 3a. Bienal de Coimbra, Portugal (2019), Curador Internacional da 11a. Bienal de Cuenca, Equador (2011) e do Pavilhão Brasileiro da 54a. edição da Bienal de Veneza (2011).
Recebeu o prêmio “Melhor retrospectiva” da APCA, 1994; Prêmio Maria Eugênia Franco, da ABCA, pela melhor curadoria de 2011;
1-Você vem ao Estado para uma Curadoria da exposição “lições de escultura “ de José Carlos Vilar.
O que te fez aceitar esse convite?
Eu conheço o Vilar desde o final dos anos 80,acompanho o trabalho dele mesmo a distância estava acompanhando e sempre que eu vou a Vitória e nos últimos anos isso tem sido mais frequente,eu o visito,enfim,era meio natural que eu aceitasse ,o que eu não esperava é que fosse convidado para isso o que é uma grande honra e um grande prazer e não tem nenhuma surpresa em aceitar esse convite. É um artista que eu admiro ,um artista da mais alta importância,então, ser convidado para um trabalho como esse é um privilégio.
2-O Que veremos no espaço cultural do Palácio Anchieta nessa exposição?
Não se trata de uma retrospectiva mas de uma antologia portanto não é uma organização cronológica,os trabalhos estão misturados porque eu acho que a cronologia não necessariamente ajuda e não é o modo necessariamente correto de apresentar algo e o que eu fiz foi organizar de acordo com as salas meio que em famílias, famílias de trabalhos,então na primeira sala são os trabalhos mais baixos,como se ele fosse levantando do chão, se erguendo, a partir de pequenas dobras, peças que são planares em geral e esses planos eles eventualmente tem uns bicos ,umas pontas ,eles começam como que a emergir do chão, isso é bem interessante.
A segunda sala ja mostra um outro dominio quando ele sai de peças que são para serem vistas do alto,claro que você pode se agachar e ter uma outra contemplação mas a segunda sala os trabalhos crescem ,como é que ele lida numa escala que é mais corporal ,os trabalhos, eles se colocam como duplos eles são também como pórticos,umbrais e também alguns que são ondulados que tem relação com superfície do mar que é uma coisa muito própria, muito comum,habitual para os moradores de Vitória e especialmente para o Vilar que é alguém que rema todos os dias ,atua com isso, é um grande esportista .
A terceira, grande sala ,a última sala ,são esculturas enormes, são esculturas aramados,então se na segunda sala elas são grandes, a maior parte delas são opacas,fechadas, são volumes fechados.
Na terceira sala são volumes aramados ,são estruturas lineares e que com a incidência da luz projetam sombras que são desenhos ,então é muito bonito,essas três modalidades de trabalho que ele realiza ,essa competência, desenvoltura com que ele vai produzindo corpos tridimensionais de natureza muito distintas e além disso, tem duas instalações, uma ligada ao esgrafito que são também ondas, elas ficam suspensas portanto elas oscilam com a nossa passagem, elas estão a meia altura e tem as bateias que estão dispostas mo corredor que liga a segunda grande sala a terceira grande sala e existe também, duas salas menores com esculturas de mesa e aí você pode avaliar já que eles estão numa altura muito próxima como que ele se sai bem no trabalho de menor escala,é surpreendente,além disso, os relevos de parede.
Então o que se tem, é um trabalho plural , polimorfico que aponta para vários lados e que ele vai abrindo frentes ,isso é muito interessante é incomum.Um verdadeiro mestre ,um artista da maior grandeza , sorte de uma cidade como Vitória, contar com um artista dessa estatura.
Um artista que será reconhecido nacionalmente e essa exposiçao pretende dar essa visibilidade e contribuir nesse processo para que o trabalho dele seja mais divulgado.
3- Discorra sobre o trabalho de José Carlos Vilar e sua importância para a Arte em especial, capixaba.
Ele é um mestre ,um artista consumado cuja obra deve ser estudada como exemplo de rigor, como exemplo de apuro e pluralidade na medida em que ele vai abrindo diversas frentes,é muito importante para a arte em geral e pra cidade que tendo contato com o trabalho dele tem um parâmetro muito forte e isso uma baliza é sempre muito importante porque em qualquer área,o diálogo, a interlocução é fundamental.
4- Recentemente fizemos uma matéria sobre José Carlos Vilar intitulada,”a poética do professor-artista”.
Além do artista, encontraremos o Professor nesses trabalhos?
Sim, não apenas porque ele foi Professor da Ufes por décadas e foi portanto um artista de artistas,alguém que formou artistas ,mas,como eu disse, o trabalho dele são lições, eu dei o nome de “Lições de Escultura” porque ele mostra a abertura, amplitude do que é ser escultor,do significado disso, então, as pessoas desde aquelas mais afeitas, próximas a escultura,aqueles que trabalham com produção tridimensional ou até mesmo o diletante terá o que aprender com esse tipo de trabalho porque ele obriga você ou ele inseja que você desacelere,que você olhe com cuidado e com isso você vai tendo noções sobre a sua própria percepção.
O trabalho destrava no espectador essa qualidade do olhar.
5- A cena cultural no Espírito Santo está cada dia mais efervescente, você pode avaliar esse cenário mesmo a distância?
Tem muita coisa acontecendo?
Tem muita coisa acontecendo, não só tem acontecendo como tem acontecido já faz tempo, o Espírito Santo e Vitória em particular que eu conheço mais é muito forte e sempre foi ,a UFES nesse sentido é muito importante e os museus,centros culturais mesmo com todas as dificuldades que sempre enfrentam,acolhem os artistas ,as galerias e também pela participação das galerias fora de Vitória, especialmente nas feiras de arte, no Rio de Janeiro e em São Paulo, isso termina ajudando a veiculação e o conhecimento, tudo isso faz com que a gente saiba o que está acontecendo e eu acompanho e o que é interessante é que você tem desde trabalhos mais canônicos de pintura , desenho, gravura e vai para instalação, escultura , performances,você tem, artistas das mais variadas mídias, eu lembro que por exemplo, nos anos 2000, logo no começo,no Instituto Tomie Ohtake eu apresentei o Paulo Vivacqua que era um dos pouquíssimos artistas que trabalhavam no cruzamento de Artes Visuais,no caso escultura,com.som,com música,então, tem esse tipo de refinamento, é um panorama de fato muito forte.
6-A curadoria, onde ela se encontra com o artista e porque é tão importante?
É importante a curadoria porque é importante o diálogo, o artista fica as voltas com o seu trabalho e é muito solitário esse processo, então, ele,as vezes,perde a perspectiva, não tem distanciamento.
Vilar é muito modesto e ele quase que não dá tanta importância, não vê o quão o trabalho dele é importante e em termos nacionais e internacionais, é uma produção singular e talvez ele não tenha esse conhecimento porque está lá o dia inteiro trabalhando, e muito focado, especialmente depois que deixou o professorado corrente, as aulas, e aí termina não necessariamente se informando ,vai tocar o próprio trabalho ,então as conversas são muito frutíferas, muito ricas pra mim e acredito que isso seja importante para ele só porque eu fico advertindo o tempo todo ( risos) que ele é ótimo, porque ele é, eu acho que ele sabe que é mas ele não assume isso,não está preocupado.
É um cara que não se divulga e ele precisa ser divulgado, então o curador entra nessa instância da difusão embora não só, na medida em que dialoga e conversa,aí você passa a ser um parceiro, uma espécie de sócio, menor,porque o que importa é o trabalho do artista,mas é sempre bom ter esse diálogo e suponho que para ele seja produtivo.
Abertura do Exposição “Lições de Escultura”, do artista José Carlos Vilar
Data: 18/03 (terça-feira)
Horário: 18h30
Local: Palácio Anchieta – Praça João Clímaco, s/n – Centro, Vitória – ES
Foto : Vitor Nogueira

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