Um olhar além do ato infracional leva jovens ao ensino superior
Acreditar na mudança, realizar escuta ativa, acolher e cuidar. Esse olhar para além do ato infracional foi a receita básica usada pela equipe do Centro Especializado de Referência de Assistência Social (Creas) Centro para levar jovens em medidas socioeducativas atendidos no equipamento a transformarem sonhos em realidade. Um desses sonhos era o de estudar no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes).
A partir do dia 15 de agosto será possível ver dois desses jovens nas salas de aula do instituto, fazendo o Ensino Médio, articulado com o curso Técnico de Metalurgia. Os outros alunos iniciarão no próximo semestre.
Um deles é o jovem, que vamos identificar apenas pela inicial do nome, G., de 18 anos, aprovado no curso de Metalurgia. Ele chegou ao Creas há mais de seis meses, sem documentação pessoal e sem acreditar na possibilidade de mudança na trajetória de vida.
No Creas, G. passou a ser acompanhado, diretamente, pela pedagoga Sandra Almeida Luis Peris. Lá, recebeu o apoio de uma equipe multidisciplinar formada por pedagogo, assistente social, psicólogo e terapeuta ocupacional, sob a coordenação da pedagoga Tatiane Soprani. Ela conta que G. é um daqueles jovens que chegam ao Creas com seus direitos violados, sem sonhos, sem projetos de vida.
“Eles chegam para cumprir a medida socioeducativa. São medidas aplicáveis a adolescentes envolvidos na prática de um ato infracional. Medidas essas previstas no artigo 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o qual apresenta, de forma gradativa, as medidas a serem aplicadas, desde a advertência até a privação de liberdade.”, explicou Sandra.
A pedagoga contou que a atuação da equipe foi a de mostrar que é possível ter outra oportunidade e, que eles têm direitos. “O direito à Educação é um deles. Trabalhamos as potencialidades e a identidade desses jovens. Eles são jovens como qualquer outro. Mas tivemos que atuar de forma diferente para possibilitar o acesso. Disponibilizamos o acesso à Educação de Jovens e Adultos (ProEja) articulado com o Ifes“, falou Sandra.
Para que o sonho de estudar no Ifes fosse possível, a equipe do Creas mobilizou-se para traçar estratégias de inclusão que pudessem vencer o maior desafio: “trabalhar a igualdade, levando em conta a desigualdade para proporcionar o acesso desses jovens ao espaço público”, disse a coordenadora do Creas Tatiane Soprani.
Cheia de orgulho, Sandra conta que foram estabelecidos critérios específicos para esse público: um deles foi participar de palestra sobre o instituto e as ofertas de cursos.
“O interesse, a força de vontade para conquistar o direito de estar naquele espaço foi levado em consideração. A ideia era aplicar o princípio de que “eu quero. Eu posso. Eu consigo. Começaram a aprender a construir um percurso e planejar a própria vida. E o resultado foram quatro jovens aprovados”, exibe Sandra.
Se for ao Ifes, será possível ver um deles no curso de Guia de Turismo, Segurança do Trabalho, Metalurgia ou Hospedagem. “Corri atrás de documentação, porque sempre quis estudar no Ifes. Quero conhecer pessoas novas, ter uma profissão e ter uma oportunidade de emprego. Sonho em trabalhar embarcado”, falou G.
G. fez questão de dizer: “Não quero só um trabalho. Quero oportunidades novas para ajudar minha mãe; dar uma casa boa para ela. Estou focado na minha vida. Nas mudanças para a minha vida. Eu vivia com pessoas que eu achava que eram amigos, mas… Hoje, estou afastado, centrado no meu irmão, na minha família. Fortalecendo os vínculos dentro de casa, dentro da família”, comentou o jovem.
A coordenadora Tatiane Soprani diz que a equipe acolhe esses jovens com o pensamento de que estão atendendo pessoas, seres humanos que trazem violações de direitos. “Eles têm identidade. Todos precisam entender quem são eles e que não são o ato infracional. O ato não pode cobrir a identidade desses jovens”, pondera.
“A medida socioeducativa proporciona o fortalecimento dos vínculos, privilegiando o ato de ir e vir. Não é negado a eles o direito de estar junto com sua família. Desta forma, esses jovens podem ressignificar as escolhas erradas. Dando um novo sentido a sua identidade”, diz acreditar Sandra.
Para a secretária de Assistência Social, Cintya Schulz, construir com os adolescentes novos projetos de vida que quebrem o ciclo do ato infracional é o objetivo principal do serviço de medida socioeducativa em meio aberto.
“Este é o resultado de um trabalho comprometido da equipe que sempre acredita nas potencialidades e desenvolvimento integral dos adolescentes”, fala a secretaria cheia de orgulho.
Reprodução : Prefeitura de Vitória