Vitória sedia a 8ª Edição do Seminário Internacional Arte! Brasileiros

Nos próximos dias 20 e 21, o ‘Seminário Internacional Arte! Brasileiros’ será realizado pela primeira vez no Espírito Santo, nos espaços do Museu de Arte do Espírito Santo (MAES) e da Casa da Música Sônia Cabral, ambos no Centro de Vitória. O evento, que realizará a sua 8ª edição, tem por objetivo mapear e debater as narrativas e práticas contra-hegemônicas nacionais e internacionais, que se manifestam no sistema da cultura e da arte contemporânea.
A programação do evento ao longo de dois dias, inclui workshops, apresentações especiais, mesas de debate, uma instalação inédita no MAES, criada pelos artistas Elvys Chaves e Carlo Schiavini, com curadoria de Clara Sampaio e Nicolas Soares, e shows musicais no encerramento.
Entre os temas dos encontros estão debates sobre luta e estratégias de curadorias decoloniais nas instituições de arte contemporânea, estratégias de articulação interdisciplinar entre arte e educação, crise climática e ambiental como tema central de produções artísticas, entre outras temáticas relevantes.
O projeto de pesquisa e curadoria do evento conta com a colaboração de Nicolas Soares, artista, curador e diretor do Museu de Arte do Espírito Santo (MAES); Fabio Cypriano, jornalista e crítico de arte, professor no programa de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP, onde é diretor da Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Arte, membro do conselho editorial de Arte!Brasileiros; e de Patricia Rousseaux, psicanalista, pedagoga, fundadora e diretora editorial da Plataforma e Revista de cultura e arte contemporânea Arte!Brasileiros, desde 2010.
Com patrocínio da EDP, empresa que atua em todos os segmentos do setor elétrico, o Seminário, em parceria com o Museu de Arte do Espírito Santo (MAES), é uma realização da Atmo e da Arte!Brasileiros, com recursos da Lei de Incentivo à Cultura Capixaba (LICC), por meio da Secretaria da Cultura do Estado,Secult-ES.
Fabricio Noronha / Secretário Estadual de Cultura do Espírito Santo
“É uma alegria para o Estado receber um evento tão importante para o cenário das artes contemporâneas brasileiras, ocupando e incidindo em dois dos nossos espaços culturais, o MAES e o Sônia Cabral. É uma oportunidade para o intercâmbio de experiências e diálogos com a cena capixaba. As artes contemporâneas podem e devem sempre ser instrumento das transformações sociais e debates urgentes, sendo seguida e apoiada de dentro das instituições culturais.”
Nicolas Soares / Diretor do( MAES ) e um dos curadores do evento.
1- Em sua oitava edição, o “Seminário Internacional Arte!Brasileiros” acontece pela primeira vez no Espírito Santo. Qual o tamanho disso para a Cultura do Estado?
A realização do Seminário Internacional Arte!Brasileiros pela primeira vez no Espírito Santo, mas também fora de sua origem primeira que é São Paulo. A Arte!brasileiros é uma mídia de arte e cultura contemporânea importante no acompanhamento crítico e na difusão das atividades no campo e no sistema da arte mundiais, entretanto as narrativas tradicionais de mídias de comunicação, principalmente na arte, tem se atentado aos debates fora dos circuitos hegemônicos. O Espírito Santo é um desses outros circuitos, em que a produção de artes visuais, por exemplo, tem força e cada vez mais se expandido para fora das fronteiras do Estado.
2- Como foi a construção para que o evento viesse para cá? Qual seu papel nessa realização?
A Arte!brasileiros tem acompanhado de perto as iniciativas ligadas à cultura que têm acontecido no Estado. Eventos das artes visuais, como a exposição REVIRAVOLTA – Acervo Videobrasil (SP), que aconteceu em 2022, no Museu de Arte do Espírito Santo – MAES e na Galeria Homero Massena, teve uma atenção especial no estreitamento da Arte!brasileiros com o que tem sido produzido, fomentado e difundido a partir daqui.
Meu papel foi principalmente na contribuição para o desenvolvimento da curadoria, em colaboração com Fábio Cypriano e Patrícia Rousseaux, e na articulação institucional do projeto em parceria com o MAES – como um museu de referência das artes visuais no Estado, para que a programação pudesse refletir também as demandas de nossa cena artística e ainda com os objetivos do próprio seminário.
3-Falemos um pouco do Seminário, a começar pelo título: Narrativas Contra-Hegemônicas.
Pensar narrativas contra-hegemônicas é entender que grande parte do regimento sócio-político-cultural privilegia histórias que ditam culturas de uma forma universal e homogeneizante. Esta lógica de pensamento e fundamentação de poder deslegitima, e por vezes apaga outras formas de existências. O Seminário quer, então, falar sobre nossas diversas formas de estar no mundo, quer pensar tanto as subjetividades que historicamente foram apartadas, e também as condições em que vivemos hoje em um mundo que está em eminência de colapso.
4-Recheado de presenças significativas, quem são os capixabas que estarão no Seminário, devemos prestar atenção em alguém especialmente?
O seminário conta com a participação de importantes artistas e agentes culturais do Estado, entendendo a importância de elaborar e difundir um pensamento também a partir daqui. Artistas como Luciano Feijão, que tem pesquisado sobre uma antianotomia negra como saída aos corpos que ainda sofrem processos de violência e subalternização. Marcos Vinícius Sant’Ana, historiador que tem se dedicado a pesquisa e a difusão de contar uma história capixaba desvelando sua camada colonial. Além da presença de pesquisadoras, como Gabriela Leandro, professora da Universidade Federal da Bahia, na área de arquitetura; como as curadoras Napê Rocha, que compõe o corpo curatorial do Museu Hélio Oiticica no Rio de Janeiro, e Horrana de Kássia, que participa do núcleo de curadoria do Instituto Moreira Sales, em São Paulo.
No MAES exibiremos a instalação dos artistas Elvys Chaves e Carlo Schiavini, que tem elaborado uma pesquisa entre interfaces digitais e realidades aumentadas e materiais como ferro e monitores de TV, sob curadoria minha (Nicolas Soares) e de Clara Sampaio, que é pesquisadora, curadora e agente cultural estendendo seu trabalho hoje até Portugal.
Os capixabas terão um papel fundamental em trazer um olhar local para as questões globais que o evento aborda.
5-Percebemos uma conjunção de atores institucionais para que esse projeto se concretizasse. Por favor fale desses parceiros e o papel de cada um.
O Seminário Internacional Arte!Brasileiros contou com a parceria de várias instituições e entidades que foram essenciais para sua realização. Primeiramente a próprioa Arte!brasileiros com sua atenção à procução artística e cultural que acontece no Espírito Santo, por meio da Atmo, produtora cultural capixaba. A EDP, como patrocinadora, por meio da Lei de Incentivo a Cultura Capixaba (LICC) da Secretaria de Cultura do Estado (Secult), que tem sido um instrumento fundamental para viabilizar grandes eventos do Estado ao mesmo tempo interconectando nossa produção cultural com o território nacional.
O Museu de Arte do Espírito Santo – MAES, tem também um papel fundamental na articulação da nossa produção artística com as interlocuções entre outros agentes culturais nacionais e internacionais que estão participando do evento. O Museu assim reforça seu papel de difusão de nosso pensamento, processos e práticas artísticas em cenário nacional da arte contemporânea, visto de grandes parcerias institucionais nacionais que aconteceram recentemente como com a Associação Cultural Videobrasil, a Fundação Bienal de São Paulo e Museu das Favelas.
6-Recentemente publicamos uma matéria sobre a demanda por financiamento no campo das Artes no Espírito Santo e o papel fundamental da Secult-ES através das chamadas públicas nesse suporte. As empresas capixabas precisam olhar mais para seus artistas?
O fomento e o apoio a projetos culturais são fundamentais para o desenvolvimento da arte e da cultura no estado. Acredito que o FUNCULTURA (Fundo Estadual de Cultura – Secult), tem seu papel primordial no incentivo direto à produtores culturais e artistas. São 16 anos de exercício, e nesta Gestão um aumento do aporte de recurso e de quantidade de projetos contemplados significativos. Esse mecanismo, ao meu ver, proporcionou também o incentivo à profissionalização da cadeia produtiva no cenário das artes, no geral, aqui no Estado. Profissionais de diversas ordens são ativados por conta dos projetos selecionados por meio dos Editais do Funcultura.
Porém outros braços foram articulados, ao caso da LICC, que hoje movimenta grandes projetos, grandes equipes, grandes artistas e grandes públicos, por meio de patrocínios diretos de empresas que atuam no Espírito Santo. A iniciativa trouxe um olhar do setor empresarial à cultura e à arte, e aos poucos, mas de forma contundente pelo tamanho dos projetos que estão sendo apresentados, entendendo como uma economia da cultura mobiliza diversos setores da organização social. Investir em arte é investir no fortalecimento da nossa identidade cultural.
7-Como você avalia o cenário das Artes no País e, em especial no Espírito Santo. As coisas estão acontecendo?
O Brasil sempre teve grandes expoentes e iniciativas das artes visuais que pautaram também a História da Arte Ocidental. Movimentos como o próprio Modernismo, e também os movimentos Concreto e Neoconcreto – tiveram ressonância internacional. A produção da arte contemporânea nacional tem ocupado os grandes eventos de arte, como a Bienal de Veneza de 2024, tendo Adriano Pedrosa como curador, mas principalmente o Pavilhão Hãhãwpuá, dedicado à produção da arte contemporânea indígena brasileira, tendo como curadores Denilson Baniwa, Arissana Pataxó e Gustavo Caboco Wapichana. Acredito que este evento específico, do pavilhão indígena brasileiro, aponta para o que estamos discutindo: a dissolução da ideia da grande arte contemporânea centralizada nos arranjos, linguagens e estéticas hegemônicas.
E nesse gancho as produções das artes visuais contemporânea de diversos lugares e culturas no nosso país, estão forjando outras centralidades, que escapam de grandes eixos comerciais e culturais como São Paulo e Rio de Janeiro. A partir do momento em que estabelecermos diversos eixos para a arte contemporânea no Brasil, poderemos vislumbrar que uma identidade de país não é única, fixa e determinante de algumas figuras. O Espírito Santo tem vazado seus artistas, discursos e pensamentos para fora, e isso reverbera no nosso cenário. As discussões pautadas a partir daqui se alinham também outras preocupações da cultura do Sul Global, a problemas e resoluções que também nos aproxima em nossas humanidades.
Programação:
20 de março
Manhã | Museu de Arte do Espírito Santo (MAES)
9h – 10h| Inauguração da instalação Wifi Grátis (ou Intromissão) de Carlo Schiavini & Elvis Chaves (Curadoria: Clara Sampaio e Nicolas Soares) e da exposição Abstrações (Acervo MAES).
10h15 – 12h30| Workshop (Vagas limitadas)
Estratégias em curadorias decoloniais (40 vagas, inscrição via formulário). Apresentação: Deri Andrade. Mediação: Ananda Carvalho.
Tarde | Casa da Música Sônia Cabral
17h – 17h30| Abertura oficial: Patricia Rousseaux (Arte!Brasileiros) e Secretário da Cultura do Espírito Santo Fabricio Noronha.
17h30| Performance de Glicéria Tupinambá.
18h – 19h45| Mesa 1: Experiências da luta anticolonial no sistema das artes.
Mediação: Fabio Cypriano. Participantes: Lia D Castro, Marcus Vinicius Sant’Ana, Guilherme Marcondes.
20h – 21h30| Mesa 2: O desafio da luta decolonial nas instituições.
Mediação: Nicolas Soares. Participantes: Deri Andrade, Luciara Ribeiro, José Eduardo Santos.
21h30 – 23h| Show: Fabriccio (ES).
21 de março
Manhã | Museu de Arte do Espírito Santo (MAES)
10h – 12h| Workshop (Vagas limitadas)
Por uma articulação interdisciplinar em arte e educação (40 vagas, inscrição via formulário). Apresentação: Gleyce Kelly Heitor. Mediação: Margarete Sacht Goes.
Tarde | Casa da Música Sônia Cabral
17h – 17h30| Abertura oficial.
17h30 – 18h30| Palestra: A crise ambiental no limite da civilização, com Malcolm Ferdinand.
18h30 – 19h45| Mesa 3: A deseducação potencial.
Mediação: Gabriela Leandro Pereira. Participantes: Horrana de Kassia, Gleyce Kelly, Napê Rocha.
20h – 21h30 | Mesa 4: Arte é conversa das almas, a arte alimenta a vida
Participantes: Sandra Gamarra, Kiluanji Kia Henda (depoimento), Luciano Feijão. Encerramento com depoimento de Rosana Paulino.
21h30 – 23h| Show: Douglas Germano (SP).

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